29.9.07


















chama uma vez vi



uma vez vi um filme em que tudo era
branco
uma vez vi um filme em que pessoas
ardiam
uma vez vi um filme onde os corpos flutuavam em emoções líquidas
uma vez vi um filme em que um rapaz vivia sozinho num farol
embalado pelo sal
pelo vento sibilante das ervas amarelas




uma vez vi um quadro sobre um punhado de areia que era a praia

e um cão de cartão
e um homem de suor.
acontecia num espaço delimitado por bobinas e sons
era um espaço mental mais que um espaço físico,
habitado pelo homem em desespero crescente de comunicar consigo através do cão,
pesquisar o cartão e o calor por dentro do cartão
o suor do seu corpo varre o chão e as bobinas que serão flores mais tarde
som e fita, areia e cinza e suor



o homem nasceu nu e vai despindo sombras
quando se envolve no cenário de plástico
fá-lo numa perfeita e visceral organicidade,
apesar das pétalas de chama que o consomem
há uma fénix de água marinha nas suas palavras
- strangely enough I am conforted by my smallness, and not for a moment dizzy or lost, repete
e repete e repete infantil e sábio, muito perto da luz




























onOcensAndBonesdeRuiHorta






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AntónioLoboAntunes Branco*



Branco como o sol
Branco como o mar
Branco como a ruga
De um remo a boiar
Branco como a sombra
Que à noite projecto
Branco com a linha
Dos fios do tecto
Branco como a língua
O leite a loucura
Os olhos da tarde
Como a arquitetura
Das estátuas gregas
Da areia do tempo
Das nuvens imóveis
E do movimento

Meu eu sem tu







Meu tu sem ninguém


Meu ninguém de sombra

Meu perfil de nada
Meu sem sem sem
Minha madrugada
Perdida esquecida
Achada encontrada
Branca como o sol
Branca como o mar
Branca como um tiro
E nada a sobrar


*forma alterada