18.3.08



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a palavra











- Falais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos, e quando já não conseguis lidar com a solidão do vosso coração, viveis com os lábios e o som é uma diversão e um passatempo.



E, em muita da vossa conversa, o pensamento fica amordaçado.



Pois o pensamento é um pássaro do espaço que numa gaiola de palavras pode abrir as asas mas não pode voar.




Alguns procurama as palavras com medo de ficarem sozinhos. O silêncio da solidão revela aos próprios olhos o eu mais puro de que alguns, aflitos, gostariam de fugir.



Outros falam e, sem o saberem, ou premeditarem, revelam uma verdade que nem eles entendem. Outros ainda têm em si a verdade, mas não a exprimem por meio de palavras.















Quando encontrardes o vosso amigo à beira do caminho ou na praça do mercado que o espírito anime os vossos lábios e dirija a vossa língua.

Porque a sua alma guardará a verdade do vosso coração como o aroma permanece no vinho.









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uma voz na pedra











Não sei se respondo ou se pergunto.



Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.

Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.























De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.







A minha tristeza é a da sede e a da chama.


Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.


O que eu amo não sei.






Amo.






Amo em total abandono.


Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente. Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.


Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.


Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.









Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.






Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra












[ antónio ramos rosa