30.8.14









Não sei como dizer-te que a minha voz te procura

e a atenção começa a florir, quando sucede a noite

esplêndida e casta.


Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsos


se enchem de um brilho precioso


e tu estremeces como um pensamento chegado. Quando



iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado

pelo pressentir de um tempo distante,



e na terra crescida os homens entoam a vindima,

– eu não sei como dizer-te que cem ideias,



dentro de mim, te procuram.




Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros



ao lado do espaço


o coração é uma semente inventada

em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,



tu arrebatas os caminhos da minha solidão


como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.



– E então não sei o que dizer



junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.


Quando as crianças acordam nas luas espantadas


que às vezes caem no meio do tempo,

– não sei como dizer-te que a pureza,

dentro de mim, te procura.




Durante a primavera inteira aprendo


os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto

correr do espaço



–e penso que vou dizer algo cheio de razão,


mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega



dos meus lábios, sinto que me falta



um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer


coisa extraordinária.



Porque não sei como dizer-te sem milagres






que dentro de mim é o sol, o fruto,


a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,


o amor, que te procuram.




















/poema de herbertoHelder. texto integral.forma alterada.foto3.blue.wolfgangLey./