30.8.14

pois coma-se








~








A Defesa do Poeta



[ Natália Correia





Senhores jurados sou um poeta

um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em criança que salvo
do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem ?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.











/obrigada pela voz, miguel! :)/

29 comentários:

un dress disse...

obrigada miguel!


(hoje era hoje,

e assim de repente...:)

Avid disse...

Belo presente... Gostei em especial da ultima estrofe.
Be-la defesa...
Bjs meus

Mar Arável disse...

A minha cor preferida é o azul
que me liberta e eu liberto - mas
hoje sentar-me-ei à mesa para comer um cravo encarnado.No sangue
não admito confusões.No Botequim era assim com a Natália Correia.

o alquimista disse...

Olá, pertenço à fundação Natália Correia uma ilhéu como eu...


Doce beijo

Anônimo disse...

a música, sempre a música; como não haver tristeza suficiente e ser imperioso cantar, como não haver beleza imensa e o impulso de a criar. tenho tantas dúvidas quanto a um verso; por vezes contam demais, e fazem-nos derrapar em excessos pretensiosos. o recanto de um palco e o sopro de uma flauta quase bastam. gosto da selecção musical. visito de olhos fechados.

Isabela Figueiredo disse...

Que belo blogue. Tão calmo. Obrigada.

Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) disse...

Señores portugueses: sois unos héroes y me rindo ante vuestro señorío, ante vuestra mesura y bondad.

Un abrazo.

¡ salud y suerte...!

mixtu disse...

natália...
que bom recordar natália no dia de hoje (ou ontem)

e este poema é...

a sua poesia, a sua vida, a sua maneira de estar...

e lembro-me dela na ultima entrevista, já com muitas dificuldadse na voz, arrependida de ter deixado de fumar...

poesia.. tem sempre alguém por detrás...

ps. houve festa e ninguem me disse? eu tomo banho todos os dias, yayaya
monstros, todos? tu não queres dormir?
yayaya

un abrazo, 7 abrazos, estes gajos e gaja tb querem, yayayaay

Verena Sánchez Doering disse...

que bello poema, no lo conocia
me gusto mucho
te dejo muchos cariños y que estes muy bien
besitos y cuidate


besos y sueños

Waiting for Godot disse...

Un beso enorme!

Nilson Barcelli disse...

Escolheste um poema soberbo, de uma escritora que nos legou muita comida literária...
Gosto muito dos poemas da Natália, claro.
Beijos.

Carlos Seixas disse...

não sei se percebi bem o seu comentário... insinua a menina que o as minhas aventuras não o são de facto? que vivo das palavras? lamento desiludi-la, mas é tudo verdade, é tudo real.
kisses all over

inominável disse...

gostava de ter uma advogada assim :))

Anônimo disse...

ai tu acrescentaste o nothing else matters à tua caixinha ali em baixo? então, agora, é que eu não me vou embora, daqui não saio, daqui ninguém me tira ;) o poema é lindíssimo! um grande beijinho.

Anônimo disse...

A mesa posta aqui:)

Beijo ()

un dress disse...

olá DIVA, mulher in-tei-ra, bela de assim ser!! :)

E. FILIPE quem me dera ter ido também ao botequim comer verde (no meu caso...;))

ser ilhéu é então uma ponte alquímica: portátil, alada e permanente ALQUIMISTA ~

MONSIEUR... é com grande prazer que vos faço( finalmente!!!) uma vénia! musical.mente. e não só.
sede, pois, bem vindo! *

ISABELA até cheguei a pensar que eras uma fada!! tenho-te lido em silêncio...:)

ANATEMA talvez por aqui estejamos hoje mais sensíveis por ser o dia 25 de abril. talvez...:)

MIXTU assim por partes... banho, já calculava. não tinha sentido cheiros por aqui...beijos aos meninos, vê lá se os tratas bem que eu não resisto a monstros...;)

FREYJA é bom ouvir, sentir a tua delicadeza... quase um sopro ao ouvido...:)

WAITING FOR GODOT uma ponte de beijos para ti! :)

...e um abraçO
lento e leve.

para todos e
para
cada
um... ~~~

un dress disse...

NILSON comida literária....sim, interessante e exactíssimo! :)

ANTÓNIO por quem me toma?? fui lá ver e não leu bem o que escrevi!! não duvido nada do seu saber de experiência feito!
eu, me, myself!, é que sou a tal que viveu muito tempo só dentro das palavras!
agora, no seu caso, como disse, don´t misunderstand me!... ;))

INOMINÁVEL...quem não gostava!?
aquilo dos cravos murchos...será que ainda podem regar-se?
eu ontem deixei uma rosa esquecida no carro, ficou quase murcha, mas à noite ficou de novo fresquinha na água...sei lá...;)

ai ALICE eu lá me vou metendo nestas aventuras, mas sempre à experiência! como não tinha som aqui...soube por ti! não era esta a ordem mas por agora fica assim...ainda bem que gostaste! eu adoro os platters, o rewind... :))

a mesa aqui. sempre LUÍS. vista desse poço verde-azul-verde...*


... um abraçO
lento e leve.

para todos e
para
cada
um... ~~~

antónio paiva disse...

..................

é para comer sim!

A poeSiA

...............

Beijo e noite serena

Marta Vinhais disse...

Olá, finalmente consegui entrar - gostei do poema da Natália Correia e a música é apropriada.
Obrigada pela visita; amanhã vou deixar um desafio - participa, ok?
Beijos e abraços
Marta

Suso Lista disse...

Beijos desde a Costa da Morte.

Rachel C Miller disse...

The words inflamed written with the blood of the soul. For I have died a thousand deaths in the tears of love, only to surface afloat the dreams. For at that moment a poet was born.
I loved,
I cried,
I felt,
I lived in the path of desire, that which marked my heart for
the eternal of my being.

un dress disse...

ANTÓNIO pois em eco: pra comer.serenamente. sem poesia...cerca a morte *

claro que sim MARTA. obrigada! irei ao teu desafio...:)

SUSO LISTA visito-te daqui a pouco. you´re wellcome! :)

missing words RACHEL.
(for a poet born from the tears of love,
printed in soul blood,
words being written so deep inside,
what to say... ?!)


... um abraçO
lento e leve.

para todos e
para
cada
um... ~~~

Alberto Oliveira disse...

... apesar de chegar atrasado ainda provei a sobremesa da Natália. Felizmente que não fazia parte dos jurados! que o bolo de chocolate deixou-me sem fala...

BEIJo

un dress disse...

legível.beijO :)

João disse...

olá, como é bom sentir que um sorriso nos alimenta

patricia disse...

"A poesia é para comer."

há verso mais poderoso?
há verso mais carnal?
há verso mais forte?

não......
e no entanto não dá vontade de o comer. dá vontade de o pôr no prato e ficar a olhar, olhar, mexer com o garfo, olhar, olhar...

beijos***

un dress disse...

JOÃO...obrigada pelas tuas sorridentes palavras de alimento! :)

PATRÍCIA...comemos sempre o mesmo!:)
a nossa ementa é sempre...p.o.e.s.i.a...:)

abraçO aos dois *

A.S. disse...

Este é um dos poemas incontornáveis da notável obra literária que Natália nos deixou... e, não sei porquê, grande parte dessas obras permanecem ainda dentro de algumas gavetas!!!

Obrigado por este belissimo momento de poesia que nos deixaste!

Um beijo!

un dress disse...

a.s. que grande prazer saber que

leste por dentrO!!

e porque permanecem na gaveta?!

(ah, i guess i know. no comments...)

beijO*