30.8.14

epur.si.muO ve





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partilhar-te de novo galileu: tu, os teus astros, particularmente as estrelas. glóbulos de brilho. particularmente a encandescência solar.




nesta bíblica terra donde nos fomos e que viste tão clara. na cósmica sensualidade da tua levíssima quilha. terra cuja boca livre beijaste apaixonadamente. vezes sem conta...



confesso-te que também às vezes ainda olhamos para cima. vagamente. a prescrutar no céu o horizonte perdido. procurando algo que nos esclareça. que nos recorde.



que nos ensine sobre a ondulação marulhada do cosmos... é que fomos perdendo bocados da alma aos poucos e precisamos lembrar. como antes. lembrar.



pergunto-me se terás tido afazeres inadiáveis. se a credibilidade desse teu fulgurante olhar te inquietou. se duvidaste...? seguramente galileu.

seguramente...mas retiraste à dúvida e ao medo a lição do amor da compaixão e do fulgor.

e dançaste... recolheste como um fruto maduro a coreografia revelada nos cabelos das estrelas.

a lembrar fulgurações do sonho dos pés serem asas. sinfonias que os astros tocavam só para ti.
e que sempre cedo terás visto. mesmo dentro sempre do porão onde foram decompostos os teus gestos.


cedo à saída da casa dos criptogramas de ferro terás visto também. ( longe de qualquer tempo e menos ainda do teu) a aniquilação por onde caminhávamos. de farda e muralha já vestidas...

íamos tanto então. afanosamente aspergindo este planeta. a cuja efemeridade pertencias. cuja mobilidade amavas. onde escolheras morar. por entre tantos planetas ...galileu. tu viajante do espaço sem tempo e sem cadeias.

esta casa que amavas passo a passo. mão na mão. num segredo redondo. minúsculo berlinde erguendo-se no vidro cristalino das tuas próprias mãos:
semente. terra. água. água. terra. azul. verde...sol sol sol
pleno de murmurações virgens.
onde agora te moves à velocidade prevista e desejada. em calada sintonia de criança.

no dia em que explicaste ao mundo o sorriso a serenidade a harmonia natural do universo. no dia em que solas de feltro sussurram sobre pedras agora.

no dia em que sábia inadvertidamente circumnavegas a noite grávida. ainda o riso da loucura feliz a viajar no teu grito. face à cegueira a voz atravessa o peito. a língua.
e perfura todos os silêncios:


- e pur si muove! e pur si m.u.o.v.e...........................................................................................................................








/decidi escrever este pequeno texto a partir dos vossos preciosíssimos comentários...reconhecerão as vossas palavras. por elas, também meu alimento, obrigada ...!!/
/foToNeT/