tudo se me encaminha nesta tarde envidraçada
de gestos elementares
aqueles que dentro da sombra
vaticinam viagens
. por aqui
na direcção deste desejo de palavras amendoadas
a questionar a laringe
a invocar-te amarelos em telas de pele
a braços com agulhas cordas tubos frascos
. e ali
- ? de onde então te acorda uma criança espantada
- ? de onde se ouvem rosas de clandestina roupagem
açucenas filiformes longas folhas verdes braços
de acesas vozes e cantos murmurados
e porém porque tudo
porque tudo é quase nada e tão aqui tão só
me dirijo à boca incrédula dos pêssegos
numa surda ternura num primitivo gesto
nesta tarde onde te toco sem palavras
e onde o branco na parede se me inscreve apenas dó
de joséTolentinoMendonça
Deixa-me dar-te o verão
O verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras